Os perrengues clássicos do tour ao Salar de Uyuni
Para aqueles que ainda não sabem o que é o Salar de Uyuni eu vou lhes apresentar. Trata-se do maior salar e maior zona de extração de lítio do mundo, localizado ao sul da Bolívia e próximo a cidade de Uyuni.
Nos últimos anos Uyuni tem se tornado um destino indispensável tanto para quem está conhecendo a Bolívia quanto para quem está em San Pedro do Atacama no Chile, sendo que este ultimo é o principal ponto de partida para esse tour extremamente aventureiro, além disso, o Salar de Uyuni já foi palco de corridas intercontinentais, como o famoso Rally Dakar, e graças a isso acabou também se tornando conhecido mundialmente.
O cogitado tour ao Salar de Uyuni não se restringe somente ao salar em sí, pois para chegar até ele atravessa-se desertos, visita-se incríveis lagunas no altiplano boliviano e aprecia-se as mais belas obras elaboradas pela natureza.
Porém, nem tudo são flores, aliás, por lá quase nem existem flores, e as opiniões sobre o tour ao Salar de Uyuni creio que sejam unanimes quanto a extrema beleza do lugar, mas unanime também é a afirmação que se passa muito, muito, muito perrengue para realizar esse passeio, mas não se assuste, são poucos dias e essa é uma viagem que vale o esforço e que ao menos uma vez na vida deve-se fazer, porque é uma experiencia unica de conhecer uma cultura diferente, curtir paisagens de tirar o folego e fazer bons amigos, tudo isso claro, em um ambiente extremo, de muito frio e pouca estrutura.
Listamos aqui, alguns dos perrengues clássicos para que você que pretende conhecer o salar já vá se preparando.
1º O FRIO CONGELANTE
O caminho até o Salar de Uyuni atravessa o altiplano boliviano, uma região de muita altitude e cercada por cordilheiras, então não tem jeito, o frio é garantido. Para se organizar antes de ir o ideal é separar todas as blusas e calças possíveis, mas se pretende viajar de mochila, como nós, o espaço é reduzido, então a unica opção é arrumar bem e reduzir todo espaço vazio da mochila.
Dizem que no verão não faz tanto frio, mas no inverno, durante os quatro dias que estivemos por lá o frio estava congelante, ficamos do inicio até o fim do tour com todas as blusas, calças, meias e camisas que tinhamos nas mochilas, e em certos locais nem assim dava para se abrigar, em certos momentos o vento surgia e parecia atravessar o corpo como uma faca.
Mas perrengue que é perrengue, é difícil no momento mas depois deixa muitas histórias e risadas, no hostel algumas pessoas deixaram as toalhas para secar no varal, sem contar com o frio de menos dez graus na madrugada e no dia seguinte amanheceram toalhas e roupas congeladas, a cerveja, para ficar ao estilo brasileiro, trincando de gelada, três minutos do lado de fora da janela era o quanto bastava, mas se ficasse mais que isso, tinha que chupar picolé de cerveja.
Laguna blanca congelada
2º A COMIDA SIMPLES
Uma das maiores preocupações quando ainda estávamos montando nosso roteiro Atacama/Uyuni, foi a alimentação, pois em diversos blogs e videos no Youtube o que se falava era sempre que a comida era a mais básica imaginável, não que isso seja ruim, a nossa ideia nas viagens é também conhecer a cultura alimentar de outros povos, porém sempre temos que pensar em nossa companheirinha de viagens, a Helo, que no período da viagem estaria com onze anos, e convenhamos que as crianças não são tão adaptáveis a novas culinárias como nós adultos.
Antes da viagem já fomos conversando e nos convencendo que a comida seria um problema, com alimentos bem diferentes do dia-a-dia brasileiro, mas, acabou que nos surpreendemos e de diferente mesmo era só a quantidade de pimenta em certos pratos, o problema é que do primeiro ao ultimo dia a comida é basicamente salsicha e frango, mais ou menos assim: arroz com salsicha, macarrão com salsicha, batata com salsicha, salsicha com cebola e o que mais a criatividade boliviana conseguice criar a base de salsicha, haaa tem também o frango... assado, cozido, na sopa, com batata, com cebola e claro... com salsicha.
O desjejum e o chá da tarde geralmente também se repete, chá e biscoito água e sal, as vezes surge uma coisinha a mais como um doce de leite ou um ovo mexido, aí é só felicidade.
Almoço
3º AS HOSPEDAGENS MAIS SIMPLES QUE A COMIDA
A simplicidade da comida até da pra tirar de letra, afinal não é algo que seja extremo, mas na questão hospedagem não da pra dizer o mesmo, a estrutura é super precária e a simpatia dos funcionários passa longe.
Para quem vai fazer o tour de quatro dias, a primeira noite se passa em um hostel precário, as camas são velhas e com colchões finos e duros, os cobertores para suportar o friozinho de menos dez ou menos vinte graus da madrugada não são suficientes e provavelmente são lavados uma vez ao ano, a comida que é preparada pelo guia é como eu já citei... "simples", para tomar banho... SEM CHANCE, no primeiro dia só com muita sorte pra rolar um banhinho, e pra ajudar a água nas torneiras saem tão frias que mal dá para lavar o rosto.
A noticia boa chega na segunda noite, no hostel de sal, simmmm... um hostel feito de sal, com boa estrutura, banho quente, cama confortável, tudo limpinho e a comida... bem, essa não muda, continua "simples" e com salsicha. rsrsrs
Para quem faz o tour de três dias a ultima noite é no hostel de sal, para quem faz o tour de quatro dias vai visitar novamente o hostel da primeira noite e se der sorte fica no mesmo quarto, caso contrário, fica em um puxadinho nos fundos, como aconteceu com a gente.
Hostal de sal
4º A FALTA DE BANHO
Como já disse um pouco acima, certeza de poder tomar banho, é só no hostel de sal, o qual cobra 10 bolivianos para uma duchinha rápida, mas mesmo assim imprescindível.
No primeiro dia, as agencias passam por volta de sete horas no hotel pegando os passageiros, dali até umas 17h você fica fechado dentro de um carro em meio ao deserto e todo coberto por roupas, quando chega ao hostel (alojamento) para passar a noite, podem surgir duas noticias: a que não haverá banho no primeiro dia ou que haverá banho mas que não tem aquecimento para a água, que geralmente esta quase congelando no encanamento, e não é exagero, a água congela mesmo!
No final do segundo dia, quase 48h depois do seu ultimo banho, chega-se ao tão esperado hostel de sal, e se seu grupo for um dos primeiros a chegar, já é possível tomar uma ducha quente e descansar um pouco até a hora do jantar, caso contrario, se seu grupo for um dos últimos, pode contar com alguma horas na fila, pois só existem dois chuveiros.
Nós brasileiros somos conhecidos por tomar muitos banhos, mas no Salar de Uyuni não tem jeito, banho é escasso mesmo, e se acha que depois do hostel de sal tudo fica bem, esta enganado, o próximo banho só no quarto dia, ao voltar a San Pedro, ou seja, mais umas 40h sem banho.
5º O BAÑO INCA (banheiros ao vento)
Algumas pessoas que gostam de viajar costumam dizer "Eu não me importo com perrengues desde de que tenha um bom banheiro", mas isso.... Pode esquecer em Uyuni!
O banheiro tipico é o baño inca, ou seja, no meio do nada, atras de uma pedra, atras de uma planta, em um buraco, ou qualquer lugar que a imaginação lhe propcie.
Planices desertas
6º AS MAQUINAS FOTOGRÁFICAS E OS CELULARES DESCARREGADOS
Já disse que tem mutia precariedade em Uyuni, então, não seria diferente com a energia e os meios para carregar as baterias. As tomadas são raras e quando se encontra uma é uma briga com o restante das pessoas.
Nós sempre levamos baterias extra, mas não tem jeito, é muita coisa para fotografar e tanto bateria quanto os cartões de memória não são suficientes para os quatro dias de tour.
Acabou?
NÂOOOOOOOOOO...
Tem muito mais, mas não se desespere, e tenha certeza, essa é uma viagem para ficar registrada como a mais incrível de sua vida!